“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas sim o que melhor se adapta às mudanças”. Citando uma frase atribuída ao biólogo britânico Charles Darwin, autor do livro A Origem das Espécies (1859), a doutora em Química e especialista em Neurociência e Comportamento Simone Garcia de Ávila, iniciou na última quarta-feira (20/4) à noite a sua apresentação transmitida pelo canal do Youtube do Conselho Regional da 4ª Região (CRQ IV).
Sob a ótica da Química, Simone Ávila apresentou o tema Química das Emoções: A Química envolvida no comportamento humano. “Todo o nosso comportamento hoje é explicado por fenômenos elétricos e substâncias químicas”, afirmou a especialista.
As emoções representam a forma como reagimos a um estímulo do meio, por isso elas refletem de forma direta no nosso comportamento. Todo evento emocional causa alterações comportamentais, manifestações fisiológicas e respostas no sistema endócrino. Essas respostas resultam na liberação de substâncias químicas classificadas como hormônios e neurotransmissores.
Simone explicou que todo o nosso sistema emocional tem como função os nossos instintos de sobrevivência e ajudam a nos adaptar a constantes mudanças.
“Um dos grandes desafios vivenciados com a pandemia é saber lidar com as incertezas”, completa. Estudos recentes dizem que grande parte do nosso sucesso em relação às escolhas não está no conhecimento técnico, mas sim no quanto o indivíduo gerencia suas emoções.”
A profissional trouxe para a live uma abordagem sobre os sintomas da depressão e da ansiedade. Ela aponta alguns em comum nas duas situações como preocupações excessivas, inquietação, dificuldades para concentração no momento da tomada de decisões e agitação.
De acordo com a professora, a ansiedade está ligada a sensações de perigo constante, medos, ameaças, sudorese, aceleração da respiração, aumento da frequência cardíaca, entre outros. A ansiedade também está relacionada com preocupações com o futuro, ou seja, sem foco no presente. O sentimento característico da ansiedade é o medo.
Ainda segundo ela, a depressão está associada à irritabilidade, pensamentos suicidas, perda de interesse em atividades normais, cansaço, perturbação de sono.
“Nós temos uma região do cérebro que está associada à imaginação. Isso é uma característica do cérebro humano. Imaginar é conseguir coisas que não estão acontecendo no momento atual. Essa mesma imaginação que pode me ajudar a ser uma pessoa criativa e traçar estratégias para solução de problemas pode também me tornar uma pessoa ansiosa”, diz a química.
Segundo um modelo de inteligência emocional, uma pessoa com depressão passa 80% do seu tempo no passado. E uma pessoa ansiosa passa em torno de 65% com o pensamento com foco excessivo no futuro. Uma pessoa de sucesso, que consegue realizar suas escolhas tem a maior parte do pensamento centralizado no presente.
“Emoção não é a mesma coisa que sentimento. Emoção é um comportamento. É uma forma como reagimos a um estímulo do meio”.
Como nascem as emoções
As cargas emocionais são formadas a partir das experiências, com o nosso instinto de sobrevivência, seja dores, medos e desejos (alimentação e reprodução).
“Um bebê nasce com um cérebro pronto com a parte emocional e vai formando padrões a partir das experiências. Se eu colocar um gatinho próximo ao bebê, ele no início não terá medo. Mas, se ao tocá-lo, o animal atacar, a partir deste momento, substâncias químicas são liberadas e terá a marcação deste evento como algo negativo, com uma emoção de se retrair ao perigo. Quando essa criança escutar ou avistar novamente o gato, ela vai desenvolver um sentimento associado à fuga e ao medo”, comenta.
Todas as nossas emoções são construídas a partir das experiências. As emoções existem para ajudar e para garantir a nossa sobrevivência. O sentimento é a forma como interpretamos as emoções e movimentos.
A profissional apresentou algumas características faciais para cada sentimento primário: medo, raiva, tristeza, alegria, surpresa e nojo.
“Para cada sentimento há uma expressão facial e até uma postura corporal característica”, argumenta Simone.
O mesmo estímulo que causa o medo (fuga) também provoca a raiva (ataque). Esses dois sentimentos estão sendo vivenciados na pandemia de Covid-19.
Entender o papel das emoções e o efeito que elas trazem do ponto de vista químico se faz necessário para realizar as melhores escolhas e garantir a saúde física e mental. Essa é uma das grandes contribuições da neurociência para o bem-estar humano.
Simone Ávila citou o Estudo de Duchenne (1846), realizado a partir de eletrodos conectados na face dos pacientes. Esses estímulos elétricos causavam alterações na musculatura da face e consequentemente mudanças na expressão facial.
“Quando Duchenne fazia esses experimentos as pessoas relataram mudanças no sentimento. Isso comprovou que a expressão facial ocorre primeiro do que o sentimento”, comentou.
Sempre que ocorre um evento causador de uma reação emocional, ele vai trazer modificações no sistema nervoso central. E essas modificações estão associadas a mudanças na musculatura que vai resultar em um comportamento e também na expressão facial.
Além da mudança na musculatura também se observa outras relacionadas ao sistema nervoso autônomo, que vai trazer modificações fisiológicas (aceleração das batidas cardíacas, transpiração) e manifestações endócrinas, ou seja, liberação de hormônios e substâncias químicas.
“A maneira como vamos interpretar tudo isso é o sentimento”.
A especialista salienta que o nosso comportamento é elétrico (neurônios) e químico.
“Temos um diferencial de cargas na parte externa (acúmulo de sódio) e interna (a presença de potássio) das células. Quando os neurônios são estimulados temos a abertura de alguns canais com a entrada do sódio nas células e isso vai causar um estímulo elétrico, uma corrente elétrica, com uma liberação de neurotransmissores que são substâncias químicas. Os neurotransmissores promovem a comunicação entre os neurônios e a formação das redes neurais, direcionando nosso comportamento”, afirma.
Atividade hormonal e Gerenciamento de Emoções
Os hormônios como a adrenalina e cortisol são liberados pelas glândulas suprarrenais quando o corpo passa por um grande estresse físico ou mental. Surgem, então, sintomas associados à liberação desses hormônios como a dilatação das pupilas, vasoconstrição, tensionamento de músculos, respiração rápida e profunda, aumento dos batimentos cardíacos e do nível de açúcar no sangue e diminuição do ritmo digestivo. Isso acontece para manter a pessoa segura.
“Mas por que essas alterações acontecem? Existe um mecanismo neurológico no corpo humano chamado de sistema de luta ou fuga que é acionado quando são identificadas situações de risco, medo ou perigo. Vários hormônios são descarregados no organismo. A ansiedade é um perigo imaginário. O estresse constante e a descarga massiva de hormônios, como o cortisol, podem afetar a saúde”, alerta Simone.
A especialista em Neurociência assegura que exercícios de concentração constituem-se em uma boa prática de atenção plena.
“Extrair o positivo do negativo, enxergar as oportunidades ao invés de focar no fracasso.”
As posturas corporais também são importantes. As posições mais retraídas sempre estão associadas a coisas negativas, depressivas, enquanto que as posições de empoderamento como os braços erguidos (V de Vitória) levam à redução de cortisol e aumento da testosterona. As posturas corporais mais eretas aumentam a produção de substâncias químicas e sentimentos mais positivos.
Ao final, Simone Ávila aconselhou que as pessoas valorizem o sentimento do outro. “Trate ao outro como ele gostaria de ser tratado”.