Um estudo promissor pode dar esperança para milhares de vítimas de câncer de mama. Desenvolvida pelo jovem cientista de 30 anos, Vinícius Guimarães Ferreira, doutor em Química Orgânica e Biológica, do Instituto de Química de São Carlos (IQSC), da Universidade de São Paulo (USP), e sob a supervisão dos professores Emanuel Carrilho, do IQSC, e Anthony Letai, da Harvard Medical School, nos Estados Unidos, a pesquisa avaliou células de câncer de mama triplo negativo e células sadias, além de tumores em modelo animal.
O triplo negativo é um dos três tipos principais de câncer de mama, representando cerca de 15% dos casos de câncer de mama. Este nome é devido ao fato deste tipo de tumor não possuir os três receptores hormonais: HER2, PR e ER. Como ele não possui estes receptores, os tratamentos hormonais não surtem efeito neste tipo de tumor, dificultando o seu tratamento.
“Entre os diversos compostos testados, os dois principais foram selecionados para testes em camundongos, onde eram administrados em combinação com quimioterapia. Neste experimento, a combinação mostrou um aumento na eficiência do tratamento em cerca de 6 vezes, quando comparados com o uso apenas do quimioterápico”, revelou o cientista brasileiro.
O químico Vinícius Ferreira explica que trata-se de uma pesquisa com testes in-vitro e in-vivo (camundongos) de uma nova terapia, no qual um dos compostos (GPP78 ou FK866) é administrado nas células (em testes in-vitro) ou camundongos (testes in-vivo), causando um estresse metabólico especificamente nas células tumorais. Em seguida, o quimioterápico (S63845) é administrado. Após a combinação das duas drogas, os tumores nos animais tratados reduzem significativamente mais em comparação aos animais tratados apenas com quimioterapia.
“Talvez uma analogia válida para o entendimento seja: imagine que ambas as células (tumorais e sadia) estão a 10 metros de um precipício. O tratamento com quimioterapia possui a capacidade de empurrar ambas as células para o precipício, matando a célula tumoral, mas também a célula sadia. Por isso pacientes acabam sofrendo com efeitos colaterais da quimioterapia”, esclarece.
O pesquisador brasileiro revela que, neste momento, a abordagem consiste em utilizar um composto que faz com que a célula tumoral, especificamente, se aproxime da borda do precipício, mantendo a célula sadia no mesmo local.
“Assim, quando entramos com o quimioterápico, precisamos apenas de uma dose capaz de empurrar um pouco a célula tumoral em direção ao precipício, pois boa parte do caminho já havia sido percorrida, diminuindo assim a dose do quimioterápico para obter o mesmo resultado (morte da célula tumoral), e com o benefício de não atingir fortemente as células sadias.”
De acordo com o químico, os resultados são animadores tanto in-vitro, como em camundongos, porém ainda é necessário fazer uma validação dos resultados num maior número de animais e/ou em animais de maior porte, e em seguida dar início aos testes clínicos (fase-I, fase-II e fase-III).
Para o jovem cientista, sem os conhecimentos da Química o trabalho jamais seria possível. “Utilizamos análises químicas modernas, como a metabolômica, para verificar as modificações bioquímicas que ocorreram nas células, após o tratamento com os compostos”, conclui o cientista.